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Bioplastia e seus riscos

Bioplastia e seus riscos

A Bioplastia vem sendo divulgada como “a cirurgia plástica sem cortes”. São atribuídas à Bioplastia como vantagens sobre a cirurgia plástica tradicional o fato de dispensar internação hospitalar, a simplicidade de execução, o menor custo, a inexistência de complicações, a recuperação imediata e a não absorção pelo organismo do material injetado. Com toda esta propaganda, a Bioplastia vem seduzindo cada vez mais pacientes e se difundindo rapidamente entre médicos de várias especialidades – entre eles alguns cirurgiões plásticos e dermatologistas.

A Bioplastia consiste na injeção de micro esferas de PMMA (Polimetilmetacrilato) diluídas em uma substância carreadora absorvível (colágeno bovino, carboxi-metilcelulose, meio aquoso) sendo comercializada com diversas marcas. No Brasil, é liberada pela ANVISA a comercialização das marcas Metacryll e NewPlastic, porém apenas para utilização em pacientes com AIDS, que freqüentemente sofrem com lipodistrofia na face (perda de gordura no rosto), sendo limitada sua injeção a 1 mL por área tratada.

Valendo-se dos mesmos conceitos dos preenchimentos não definitivos (Ácido Hialurônico, Ácido Polilático, Hidroxiapatita, Colágeno) os adeptos da Bioplastia utilizam o PMMA para adicionar volume aos tecidos (pele, gordura, músculo) e desta forma atenuar rugas, corrigir depressões, aumentar lábios, maças do rosto, panturrilhas e glúteos, redesenhar a mandíbula e o nariz e, pasmem, aumentar o diâmetro do pênis!

O PMMA foi sintetizado em 1902 na Alemanha. É uma substância biocompatível, ou seja, aceita pelo corpo, e definitiva, pois não é reabsorvida pelo organismo. Foi utilizado na medicina pela primeira vez em 1940 na forma de uma placa para corrigir um defeito na calota craniana. A partir de meados do século passado passou a ser largamente utilizado em ortopedia como cimento ósseo nas cirurgias de próteses, em oftalmologia na confecção de lentes intra-ocultares e na odontologia na fixação de prótese dentárias. Na década de 90 do século passado iniciou-se o uso de micro esferas de PMMA diluídas em uma solução, o que permitia que o produto fosse injetado no organismo.

Micro esferas de PMMA (Microscopia Eletrônica)

A meu ver, constitui-se um estrondoso equívoco considerar segura à injeção de micro esferas de PMMA baseada na experiência de décadas de utilização do PMMA em outras formas de apresentação. Fazendo uma analogia, seria o mesmo que dizer que a injeção de silicone é segura por que os implantes mamários de silicone são seguros. O fato é que não há estudos de longo prazo que comprovem a segurança da utilização da injeção de PMMA.

Os defensores da Bioplastia alegam ser segura a injeção de PMMA, pois as micro esferas são maiores que os macrófagos (células de defesa do organismo) impedindo desta forma que sejam englobadas por estas células, impossibilitando a migração das micro esferas para outros órgãos e tecidos do corpo. Não foi o que mostrou o excelente trabalho da Cirurgiã Plástica Simone Rosa, realizado na Universidade de Brasília. Neste trabalho foi injetado PMMA na orelha de camundongos. Algum tempo depois as micro esferas foram localizadas em órgãos como rim e fígado, trazendo impacto para a saúde dos animais.

Além disso, dizer que a Bioplastia não apresenta complicações é uma falácia. Cirurgiões Plásticos e Dermatologistas estão cansados de receber em seus consultórios pacientes desesperados por apresentarem complicações para as quais não foram alertados. Felizmente as complicações são, em sua maioria, leves. Dentre as mais comuns estão reações alérgicas, inflamações persistentes, formação de nódulos, granulomas e palpabilidade do implante. Porém, o tratamento destas complicações na maioria das vezes requer a remoção cirúrgica do PMMA injetado, o que em muitos casos não é possível e, quando possível, deixa cicatrizes. No blog Bem Resolvida - www.bemresolvida.com.br - escrito por Pat Rabelo há um excelente post sobre o tema (clique aqui). Apesar de leiga, ela aborda de forma clara o assunto e no espaço reservado aos comentários há centenas de relatos de pacientes que apresentaram complicações da Bioplastia. Entretanto, apesar de menos numerosas, infelizmente existem diversos casos de complicações graves, como cegueira, necroses extensas e, como vimos no início do post, até morte.

Obviamente há inúmeros casos de pacientes satisfeitas com os resultados obtidos através da Bioplastia que não apresentaram qualquer tipo de complicação. Porém, a impossibilidade de solucionar a maioria das complicações e a falta de estudos a longo prazo que atestem a segurança do PMMA me fazem abominar a Bioplastia. Na minha prática médica dou preferência à utilização de preenchedores não definitivos, mais especificamente o Ácido Hialurônico, ou a gordura do próprio paciente. Para aumento das panturrilhas utilizo implantes de silicone, assim como no aumento dos glúteos, onde também faço uso da lipoenxertia.